quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Quem manda aqui sou eu!

O recente episódio da “quebra de braço” entre o então técnico do Santos, Dorival Junior, e o jogador Neymar é uma boa oportunidade para se conversar sobre temas importantes como poder e autoridade.

Poder e autoridade não são a mesma coisa, mas andam juntos. Poder é a capacidade – que alguém ou algum grupo possui – de levar outras pessoas a fazer o ele determina. Já autoridade vem da mesma raiz que gerou as palavras “autor” e “autoria”: a capacidade de falar em nome próprio ou em nome do grupo que ele representa.
O técnico é alguém que recebe da diretoria de um clube a autoridade para comandar uma equipe de jogadores. Cabe a ele determinar o que precisa ser feito, quem deve jogar e em que posição, para que o time alcance os objetivos traçados: a conquista de um campeonato, a classificação para um outro torneio ou não ser rebaixado.
A autoridade do técnico para comandar a equipe é legítima, ou seja, os jogadores aceitam que a voz de comando é do técnico seja porque é costume que todas as equipes sejam comandadas por técnicos (autoridade tradicional), seja porque tanto o técnico quanto os jogadores foram contratados pelo clube, cada um para exercer uma função diferente (autoridade legal).
Às vezes acontece de um técnico assumir uma posição de liderança por se destacar pela forma de agir e falar para estimular os jogadores. Um jogador pode ser enxergado pelo grupo como um líder desse tipo (autoridade carismática) porque joga muito bem ou, simplesmente, porque consegue articular bem os companheiros dentro de campo.
Autoridade tradicional, carismática e legal são conceitos elaborados pelo sociólogo Max Weber para explicar porque uma pessoa é vista e aceita como autoridade dentro de um grupo social.
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O episódio entre Neymar e Dorival Junior mostra que, na sociedade de hoje, a figura da autoridade está em crise. O ex-técnico Dorival Junior era a autoridade legítima para comandar o time. É provável que nem todas suas decisões tivessem sido acertadas, mas ele é quem respondia por elas. Neymar tem se destacado por sua qualidade como jogador mas fatos recentes têm mostrado que ele ainda não está pronto para assumir uma liderança carismática entre seus colegas.
Embora sua autoridade seja legítima, o técnico perdeu o poder sobre os jogadores, não tinha mais a capacidade de mobilizá-los em vista do objetivo do clube no Campeonato.
Ao privilegiar o jogador, a diretoria do Santos retirou do ex-técnico sua autoridade sobre os jogadores, embora estivesse fazendo um trabalho satisfatório; a diretoria também deixou claro para os futuros técnicos que a autoridade deles é frágil. Estatísticas mostram que no campeonato brasileiro desse ano foram 23 técnicos trocados no final das 16 primeiras rodadas (quase 1,5 por rodada).
Isso dá o que pensar: não só em termos de futebol, mas em termos de sociedade